Combate nas trevas

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“Combate nas trevas” do historiador e militante comunista Jacob Gorender (20 de janeiro de 1923 a 11 de junho de 2013), é um dos grandes livros sobre a história recente do Brasil. Segundo o professor e sociólogo Marcelo Ridenti: “É o primeiro livro de indicação obrigatória dentre os inúmeros já escritos por ex-militantes, jornalistas, historiadores e cientistas sociais para os leitores que desejam conhecer a história da esquerda brasileira nos anos 60 e 70, particularmente da esquerda armada.”
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Em 2013, aos noventa anos, Jacob Gorender faleceu em São Paulo. Seu desaparecimento foi lamentado pelo melhor da intelectualidade brasileira; multiplicaram-se manifestações de tristeza das forças democráticas e dos militantes da esquerda. Poucos homens deste país foram tão pranteados e tão homenageados como Gorender – e poucas vezes as expressões de respeito a um morto foram tão sinceras e merecidas.

Baiano de Salvador, filho de judeus pobres, Gorender frequentou a Faculdade de Direito da capital baiana entre 1941 e 1943. Não concluiu o curso: alistado na Força Expedicionária Brasileira, cumprindo determinações do seu partido (o PCB), chegou à Itália em setembro de 1944 e participou das batalhas de Monte Castelo e Montese. No regresso, tornou-se um quadro profissional do PCB, militando em organizações no Rio de Janeiro e em São Paulo e intervindo ativamente na imprensa comunista.

A prática política a que se dedicou desde então foi sempre acompanhada pela sua intervenção teórica. Depois de um curso em Moscou (1955), conquistou influência no PCB e participou da redação da “Declaração de Março” (1958), importante documento que marcou um giro na linha política dos comunistas. Já granjeando prestígio intelectual com os ensaios que passou a publicar na revista “Estudos Sociais” (criada naquele ano no Rio de Janeiro, sob a direção de Astrojildo Pereira), em 1960 Gorender foi eleito para o Comitê Central do PCB (no V Congresso).

Na sequência do golpe de 1964, quando os comunistas viram-se obrigados a avaliar as causas da derrota de abril e formular uma nova orientação política, no marco do VI Congresso do PCB (1967), Gorender divergiu da direção partidária de que fazia parte e com outros dirigentes (como o seu amigo de juventude Mário Alves, assassinado pela repressão em 1970, e Apolônio de Carvalho) fundou em 1968 o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário/PCBR. Aprisionado pelas forças repressivas em janeiro de 1970, foi vítima de crueis torturas – que não lhe quebraram o ânimo revolucionário nem afetaram a sua dignidade de comunista.

Sai da cadeia ao cabo de dois anos e retoma a sua vida de estudioso, agora liberado de compromissos partidários. Desvinculado de instituições universitárias, apoiado apenas por amigos e companheiros, dedicou-se a uma hercúlea pesquisa sobre a história brasileira, da qual resultou a sua obra mais importante – o polêmico e instigante livro “O escravismo colonial” (1978), que ganhou uma nova edição em 2010, pela Editora da Fundação Perseu Abramo. Após a anistia, teve intensa atividade editorial, escrevendo textos relevantes sobre Marx e desenvolveu investigações sobre a burguesia brasileira (que deram origem a vários ensaios e livros). Depois de “O escravismo colonial”, as suas publicações mais expressivas foram “Combate nas trevas” (1987), “Marcino e Liberatore” (1992) e “Marxismo sem utopia” (1999).

Nunca bafejado por favores oficiais, estudioso independente e autodidata, Gorender produziu uma obra histórica sem a qual, definitivamente, não se pode fazer uma análise profunda da sociedade brasileira. O reconhecimento acadêmico desse trabalho intelectual tardou, porém se deu em 1994, quando a Universidade Federal da Bahia concedeu-lhe o título de “doutor honoris causa”.

Mais importante que um título acadêmico foi o tributo de respeito e admiração que, merecidamente. Gorender recebeu nos últimos anos da sua vida simples e modesta. As homenagens póstumas que lhe foram prestadas apenas ratificaram a sua importância na cultura política brasileira.

José Paulo Netto – Professor da Univesidade Federal do Rio de Janeiro e da Escola Nacional Florestan Fernandes

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